Agarrando-se aos valores sintéticos do sentimento, da solidão, do vômito, do auto-flagelo, da culpa e da promessa nunca cumprida, a energia cinética e o ruído se combinam para contar histórias de uma infância cicatrizada pela dor da auto-percepção nos trabalhos de Giwa Coppola. Tendo o pensar como fonte de sofrimento, as metáforas e analogias óbvias são presenteadas ao espectador como um ato de vingança, agressivo e provocante, convidando-o à experiência vicária do terror absoluto de afundar-se em si. Dissonante corpo avulso vaga pelo mundo em busca de compreender-se em sua morte-em-vida. Apesar do medo, o ninho funesto Florianópolis continua sendo espaço de trabalho na produção independente de sua catarse artística, fadada a sempre desmanchar-se em sangue.

EXPOSIÇÕES

◦ Ocupação Biblioteca - 2022
Biblioteca Central UDESC
Participação em exposição coletiva com obra em videoarte "acúmulo / desabafo" e performance de "NINHO"

atravessamento: Acontecimento em 4 partes - 2022
Arena do CEART
Participação em exposição coletiva com a performance "Peça para sangrar (Blood piece)"

Mostra Anima Digi - 2024
Telão da Arena do CEART
Participação em mostra coletiva com a animação “Moksha - Coração Vacinado (Lyric video animado)"

Projeto Traços em Trajetos: Entre meios - 2024
Galeria Jandira Lorenz
Participação em exposição coletiva com a obra multimídia "Memento mori"

Exposição-ocupação Projeto Escaninho - 2024
Hall do Departamento de Artes Visuais (CEART-UDESC)
Participação em exposição coletiva com as obras "Instruções" e "acúmulo / desabafo

26 jun '23 (2023-2024)

MIDIA_EX02 (2024)

Instruções (2024)

acúmulo/desabafo (2022)

culpa. (2021)

Memento mori (2020-2021)

Este se deu na recente realização do meu estado depressivo quase-que vegetativo. À partir de uma experiência isolada do passar do tempo, que é simultaneamente tão devagar e tão efêmero, descrevo com as melhores palavras que pude encontrar a sensação dissociativa da depressão.
Retomando o tema de traumas, é partindo deles que construo a poética do trabalho. Cada vez mais minhas vivências me despem da minha personalidade, minha energia, minha identidade, minha vontade, minha carne, minhas defesas.
Um presságio de morte. Um auto sacrifício. A pancada da realidade ao perceber quanto dano poderia ter sido evitado se ao menos alguma forma de apoio me tivesse sido ofertada na infância.

NINHO (2022)

Sussu é meu carro. Meu espaço de liberdade, de segurança, de acolhimento, de descanso e de fuga. Eu sou amigo de Sussu e Sussu é minha amiga. Mas nossa amizade é de uma intensidade que somos quase uma consciência única. Tanto que da vontade de externalizar o que acontece dentro da minha cabeça, Sussu se transformou em receptáculo das mais diversas confusões mentais.
Em “NINHO”, convido o público a adentrar o carro, posicionando-se da forma mais confortável num ambiente decorado, almofadado e cheiroso, de temperatura controlada e iluminação sútil e confortável. Em meio aos vários bichinhos de pelúcia que num dia normal habitam meu quarto, ouve-se um misterioso poema de Thomas Ligotti, estrangulado pela voz de David Tibet na música “I Have a Special Plan for This World“ (Eu Tenho um Plano Especial para Esse Mundo), do grupo inglês Current 93.
Preso em meu próprio inferno, materializo parte de minha vivência dentro de uma casa de horrores, recriando o quarto em que me isolo, com objetos tão fofos e reconfortantes, mas nunca esquecendo o perigo que assola o lugar atrás da porta. Minhas obras mais viscerais, que se escondem sorrateiramente nos cantos internos do carro, trazem à luz a dor constante de viver num mundo pugnaz e corrosivo. O sangue, o bordado nas tripas, o sorriso engessado e a ponta da faca afiada rente aos olhos daquele que assume a posição de piloto, todos culminam ao retrato de uns anos atrás de alguém que não vejo mais no espelho. Acima de tudo, me sento na coluna traseira da Sussu, agarrade ao meu próprio corpo, tal qual um pássaro que vigia seu ninho.

ITTTW (2024)

ASCII Board (2024)

Peça para sangrar ou Blood piece (2022)

LOGOMANIA (2021)

Quão fundo vão as cicatrizes dessas palavras? Será que elas são tão visíveis como me fizeram acreditar? Na verdade, não sei se as palavras ferraram-se sozinhas em meu corpo-identidade ou se foram os anos de enfraquecimento mental e despersonalizações que as costuraram na minha pele. Mas esforço enorme não é necessário para descobri-las em minha geografia.
Creio que talvez seja fácil – até fácil demais – para aqueles que têm carinho por mim apontar as discrepâncias entre as palavras e minha pessoa. Se for de seu agrado, ouvirei suas críticas com apreço e atenção – mas compreendê-las talvez seja demais para mim. Não posso escapar da língua que me molda por mais que eu tente quebrar o molde.

Inconveniência (2019)

Vídeos de instruções (2020-2021)

Corpo, vestígio e tempo (2019)

Arte Postal (2021)

ingrato

I've committed.
Committed the sin of being alive. Of making myself present. Of being flesh and blood and taking up space.
I've committed the sin of intruding lives and being marked onto memories. Of occupying more than my body can grant me.
I've committed the sin of falling off my mother and deforming her likeness, her will and every last one of the threads that linked her to soil.
There is no love for me for I have committed the sin of breaking others — which has led me to being broken myself.
I've been made to spoil all that concerns me and spread the rot within me as far as I can. And I can do no different. For I am broken. And that sin I have committed.
A commitment so fundamental and senseless that it's idiotic not to follow through, for there is no argument against it.
And so I continue sinning, as that is all that I'm made of: sin, punishable by life. But a life so putrid it is nothing but broken waste.

Carniça

O que você faz quando está preso em carniça? Quando precisa suportar o peso da carne mortal sem ter alma estruturante que o carregue.
Tudo simples processo químico, potássio e sódio, síntese maldita do que te empurra pra fora de casa para ser esmagado pela gravidade do mundo.
Tal qual minhocas em Terra seca, você perambula e esbarra em caminhos sem saída até eventualmente sucumbir à poeira.
Largado pra sempre em mar aberto e insalubre, em meio a existências arruinadas e corpos inchados pela água salgada – mas talvez ainda mais vivos que você.
Logo você, que nunca soube dos horrores do mundo, consegue se afundar em tormento tal que se esvai completamente da sua humanidade. E todos o vêem como bixo, pois é o que tu és. Bicho, morto, à beira da estrada que ninguém notou – ou fizeram questão de desviar o olhar.
E vives só em teu desespero, na esperança que alguém te jogue uma corda. Mas não tens energia para agarrá-la, afinal, és apenas corpo sem destino. Sem vida. Sem alma.

Mancha

Olhando uma mancha na parede. Ruído entope meus ouvidos. A mancha se abre, me convidando para entrar. Caio como que hipnoticamente, em queda livre pela fissura e vejo suas paredes rapidamente subindo e esquivando meu campo de visão, furtivas. Moscas me circundam e dançam sorrateiras diante dos meus olhos, nas minhas orelhas e boca. Dando voltas em minha cabeça como ambiciosos navegadores exploram os mares. Caindo, me sinto em paz. Suspenso no tempo e separado do mundo. Em meio ao ar pútrido e denso do espaço da mancha que roubou minha atenção. Caindo me entrego às forças maiores que me deram olhos para ver a mancha. Forças estas, que sempre que parecem vir ao meu encontro, mudam de ideia e fogem, escondendo-se. Mas o buraco continua me engolindo. E a inércia desafia a física, me enganando e fazendo-me acreditar que caio cada vez mais devagar. Poderia, por exemplo, tirar uma soneca ali mesmo. À mercê deste túnel retilínio sem final aproximado. Todas as coisas invisíveis que me desaceleram tornam-se plumas nas quais eu esbarro em minha queda, deslizando sobre elas com um recém-nascido que é passado de colo em colo em busca do conforto e do calor de um ente querido, da conexão de sangue e do embalo na pura aceitação. Sem consciência de vida; cego; atônito. Vulnerável à maldade do mundo, temendo ingênuo a morte – pois ainda não sabe o que fazem com os vivos. À espreita, um destino escrito por linhas fracas de grafite pode, a qualquer momento, firmar-se por acidente. E daqui alguns anos o infanto se depara com a parede de tijolos e concreto que ergueu assistido pelos progenitores, que a atravessaram sem problema enquanto a criança ficou para trás. E nesse momento percebo que cheguei ao fundo do buraco, entregue pelas mãos do tempo e sem impacto. Sem aviso. Sem ninguém. Quando escuto algo como um chamado de um lugar que não existe. Me viro e encontro outra mancha. Sem muito esforço, me sinto caindo de novo.

26 jun '23

Preso num corpo que não me pertence. Que me causa angústia; me faz sentir asco; me permite sentir todas as dores — e as infelicidades.
Sempre sozinho nesse corpo que me prende ao mundo e me culpa por experienciá-lo.
Nunca sozinho nesse corpo que insiste em me inserir em linhas do tempo das quais — mesmo grato de participar — me escaparam tão rápido. Algumas despercebidas; algumas que me deixaram marcas, ou feridas abertas que nunca pararam de sangrar (e nunca vão parar).
Sem nenhum direito ou consentimento. Algumas dessas feridas eu mesmo as fiz — pois não sabia fazer diferente.
É tão doloroso viver assim que há tempos me convenci de que, na verdade, não estou vivendo. E nunca vivi de verdade. Natimorto em concepção e contra minha vontade.
A vontade de estar aqui sempre foi minúscula; esdrúxula. Roubo dos outros o pouco de vontade que me oferecem e a gasto logo em seguida: como um viciado se abstém do orgulho por consolo imediato — como fuga do mundo, dos sentidos, do inferno da carne e do ego.
Quando se mata de pouco em pouco como pode ser sentido?
Quando se perde tanto o que pode faltar?
Quando se esvai por completo do que pode-se arrepender?
Quando não se sente mais o que pode-se reconhecer?
Quando cai tão rápido do que pretende salvar-se?
Quando chega tão fundo como pode ir mais baixo?
Quanto pode pesar um corpo morto contra o concreto?
Quanto pode o vazio sangrar?

I'm in a room full of poison gas (tradução)

Estou numa sala cheia de gás venenoso. Toda vez que inspiro ele me tira uma parcela de sensibilidade. Não me sinto completo desde que entrei.
Algumas pessoas passam pelas janelas, e algumas até param por um tempo para me fazer companhia. Mas em algum momento eu percebi que as janelas estavam trancadas e a porta estava barrada.
As paredes são um cinza claro. Nada muito interessante ou fora do normal, mas atualmente tenho observado esse fungo crescendo nos cantos. E isso me fez compreender que eu perdi a noção do tempo que passei aqui, e a memória de quando entrei se foi há muito.
Tem uma luz branca piscando no meio do teto. Em certo ponto eu lembro dela estando mais forte, mas assim que começou a estabilizar, tivemos uma queda de energia e tudo ficou escuro por algumas semanas. Ela tem se recuperado desde então.
Hoje em dia eu escuto pessoas andando e mastigando suas refeições. Às vezes percebo o som de saliva chocando contra o chão do lado de fora do meu quarto. Eu não consigo evitar de sentir como se estivessem mirando em mim. Nesse momento já faz sabe-se-lá quanto tempo desde que senti paz. Ainda assim, tudo é tão excruciantemente parado, o que me faz pensar que talvez eu nunca recupere os sentidos que perdi aqui.
Mas algo me diz que eu possa ser liberado mais cedo do que imaginei. Exceto que desta vez eu não sei para onde vão me levar quando sair. Ou, honestamente, eu só esteja esperando que esse gás tire minha habilidade de ver as essas paredes encharcadas para poder sair por mim mesmo. Eu sei que esse será um dos últimos sentidos a sumir, mas a demora para a porta abrir parece muito mais longa que qualquer tempo que eu estaria disposto a ficar.
Sinceramente, eu só queria que eles acionassem a válvula de emissão e me matassem de uma vez por todas.

28 aug '23

i am flesh. pulsating still in absence of power. embalmed in doldrums, fixed up by worn out bridles, in exposition to the unwanted witness. i've made my vessel out of violence, delusion, selfishness, vomit and leftover hatred. it is stitched together by a series of miscalculations and unfortunate events that strayed it from the path it was built for. therefore abandoned in groundless hollow, only serves its purpose to echoe toneless apathy in disrespect for the living. a laggard mistreat of its own species, loathful reject stripped of its humanity. no longer felt or seen or heard, not meaningful but artless in its mushed up form, pathetic blood red goo, prompt up on bones, pulsating anguished.